Já se perguntou o que aconteceu com a Victoria’s Secret desde que cancelou seu icônico desfile em 2019? A marca, que já foi sinônimo de moda, está vivendo uma crise, porém com a determinação de se reinventar. Após anos de escândalos, Victoria’s Secret World Tour ’23 mostra a jornada da marca na tentativa de buscar de uma nova identidade.
O documentário nos leva a desfiles em quatro cidades do mundo, com coleções diversificadas e a participação de estilistas renomados. No entanto, a grande questão é: será que isso é suficiente para conquistar de volta a confiança e o interesse do público, especialmente em uma era de crescente conscientização sobre a importância da diversidade e da representatividade na moda?
O Victoria’s Secret Fashion Show era um evento anual que se tornou um fenômeno da cultura pop desde sua estreia na televisão em 1999. Este desfile apresentava modelos usando roupas íntimas extravagantes e asas, atraindo milhões de espectadores a cada ano. No entanto, a decisão de cancelar o desfile em 2019 foi motivada por uma série de problemas. Entre eles, a queda na audiência e nas vendas da marca, críticas à falta de diversidade e ligações controversas entre o fundador da empresa, Leslie Wexner, e Jeffrey Epstein, financista acusado de traficar sexualmente garotas menores de idade.
Além disso, um dos fatores que contribuiu para o cancelamento foi uma entrevista polêmica do ex-chefe de marketing da marca, Ed Razek, que afirmou que não havia espaço para modelos trans ou plus size no desfile, pois ele visava um público “fantasioso”.
Mudança de rota
Desde o cancelamento do desfile em 2019, após uma série de acusações sobre falta de representatividade de corpos, a VS está trabalhando em sua nova imagem. A empresa adotou uma abordagem multifacetada para reconstruir sua marca. Isso incluiu a demissão de executivos de alto escalão, a introdução de novos formatos de roupas íntimas, como sutiãs para amamentação e para pessoas mastectomizadas, e uma mudança significativa na representação de corpos nas campanhas publicitárias.
A marca agora tenta celebrar mais a diversidade de tamanhos e formas, um contraste marcante com o histórico de promover um padrão único de beleza. No entanto, ainda há muito espaço para melhorias nessa área. Um dos passos mais notáveis nessa direção foi a contratação da primeira modelo trans da marca, Valentina Sampaio, em 2019. A brasileira se tornou um símbolo da mudança da Victoria’s Secret e participou do documentário como uma das estrelas do desfile virtual no Rio de Janeiro.
Nesse sentido, o documentário é uma produção que tenta capturar a jornada em busca de uma nova identidade, com uma abordagem inovadora ao apresentar coleções inspiradas em quatro cidades do mundo: Bogotá, na Colômbia; Lagos, na Nigéria; Londres, na Inglaterra; e Tóquio, no Japão. Essas cidades foram escolhidas por representarem diferentes culturas e estilos de moda.
O documentário acompanha 20 criativos de diversas áreas artísticas que concebem quatro coleções inspiradas nessas cidades. A estética do documentário também reflete essa nova direção. As tradicionais “angels” da marca, conhecidas por desfilarem com asas, deram lugar a uma abordagem mais diversificada. O filme apresenta estilistas convidadas que vão além das peças íntimas, ampliando o escopo das roupas apresentadas.
Porém, é importante notar que, apesar das tentativas de diversificação, ainda persiste a prevalência de modelos ultra magras e brancas na passarela virtual, indicando que a marca ainda tem um longo caminho a percorrer na busca pela verdadeira inclusão.
Além disso, a empresa enfrenta não apenas a pressão de redefinir sua imagem após o cancelamento do desfile, mas também uma série de desafios econômicos e éticos. A empresa perdeu cerca de US$ 1,8 bilhão em vendas desde 2018, e as ações atingiram seu nível mais baixo em setembro de 2023. A marca também enfrentou acusações de má conduta ética e comportamento inadequado por parte de ex-executivos e ligações controversas com Jeffrey Epstein, que foi condenado por tráfico sexual de menores.
Em resumo, o documentário “Victoria’s Secret World Tour ’23” é um esforço para reinventar a marca e abraçar a diversidade, mas também revela as limitações e os desafios que a marca ainda enfrenta. A pergunta que fica é: será que o público vai se convencer dessa mudança ou vai continuar desconfiado e desinteressado pela marca? A resposta pode depender da percepção do público, que cada vez mais exige uma indústria da moda mais inclusiva, diversa e responsável. O documentário pode ser interessante para quem quer acompanhar as novidades da VS, mas também pode ser frustrante para quem espera ver uma mudança mais radical e consistente.
Este texto foi editado por Ana Luiza Sanfilippo
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