Ao contrário do que muitos pensam, vitiligo é uma doença autoimune, caracterizada pela perda de pigmentação da pele, responsável por formar aquelas manchinhas claras que conhecemos. Elas são, nada mais nada menos, que a falta de melanina, o que pode afetar diferentes áreas da pele como mão, pés, rosto, corpo e até mesmo o couro cabeludo.
Essa condição possui até uma data própria: O Dia Mundial do Vitiligo, 26/06. O evento é uma lembrança da necessidade de combater preconceitos a respeito da doença e a urgência de debater a questão da autoestima, principalmente em mulheres. A meu ver, em decorrência de um passado histórico, são realizadas cobranças sociais e familiares rígidas a respeito da estética feminina, o que as leva à exclusão social e isolamento.
Para saber mais sobre o assunto, a HC Cásper Líbero realizou uma entrevista exclusiva com Fernanda Barucci, médica dermatologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia-SBD.
Quando questionada sobre a definição da doença, Fernanda esclareceu: “O vitiligo é uma condição dermatológica genética, autoimune, caracterizada pela perda de pigmentação na pele, resultando em manchas brancas que podem afetar qualquer área do corpo e do rosto. Pode ocorrer em qualquer idade, gênero ou raça. E não é contagioso! Essa despigmentação ocorre devido à redução ou ausência dos melanócitos, que são as células que produzem melanina, o pigmento responsável pela cor da pele.”
Além disso, a dermatologista também dissertou sobre as formas de tratamento do vitiligo, e revelou que não tem cura.
“O vitiligo não tem cura, mas tem tratamentos que visam impedir a progressão e aumento das manchas, e, em muitos casos, repigmentá-las. Existem várias opções de tratamento para essa condição dermatológica, incluindo terapias tópicas, fototerapia, terapia oral e procedimentos cirúrgicos.”
Segundo ela, as terapias tópicas envolvem geralmente o uso de medicamentos tópicos, imunossupressores e imunomoduladores, que ajudam a repigmentar a pele. A fototerapia utiliza luz ultravioleta para estimular a produção de melanina. Os tratamentos orais podem incluir medicamentos que modulam o sistema imunológico. Além disso, em casos selecionados, procedimentos cirúrgicos como transplante de melanócitos podem ser considerados.
Fernanda também contou como é atender um paciente com vitiligo: “Como dermatologista já atendi e atendo muitos pacientes com Vitiligo. Cada experiência é única, mas o que mais me marca é a resiliência e a coragem dos pacientes em lidar com uma condição que pode afetar significativamente sua autoestima. O tratamento requer um acompanhamento próximo e um apoio emocional contínuo para enfrentar os desafios que o vitiligo pode trazer.”
Ela também explicou a diferença entre o vitiligo e o melasma, que é outra condição dermatológica. “O vitiligo e o melasma são condições distintas. Enquanto o vitiligo é caracterizado pela perda de pigmentação e resulta em manchas brancas na pele, no melasma ocorre o escurecimento da pele. O melasma é influenciado por fatores hormonais, vasculares, inflamatórios e exposição solar, enquanto o vitiligo tem uma base genética e autoimune.”
Vale ressaltar que mesmo sendo uma doença autoimune de caráter hereditário, o vitiligo pode ter como uma das suas causas o aspecto emocional ou físico. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, isso afeta em iguais proporções homens e mulheres, apesar de, observarmos com mais frequência pessoas do sexo feminino com essa condição.
A grande pauta em questão é como o vitiligo ao longo dos anos foi estigmatizado pela sociedade em si, o que afeta significativamente a qualidade de vida e a autoestima de pessoas que convivem com essa doença. Um olhar desconfiado, medo de chegar perto e questionamentos muitas vezes preconceituosos. Esses fatos escancaram a era da desinformação que vivemos desde tempos passados até a atualidade.
A modelo canadense Winnie Harlow, capa da revista Marie Claire, ficou famosa após participar do programa “America ‘s Next Top Model”, tem vitiligo. Ela conseguiu quebrar padrões pré-estabelecidos no mundo estético da moda, ao se tornar a primeira top model com a condição a fazer campanhas para marcas de luxo.
Em sua vinda ao Brasil, Winnie expôs em uma entrevista sobre o bullying sofrido na infância, o racismo na vida adulta e a necessidade de mulheres que possuem vitiligo serem reconhecidas na mídia. Ela afirma também que nunca pensou em ingressar na carreira de modelo já que, durante muito tempo, ela pensava que era a “única mulher com vitiligo na Terra”.
Durante a entrevista ela relata: “Aos 11, era apelidada de ‘zebra’ e ‘vaca’ pelos colegas, e o bullying só aumentou. Mais de uma vez, as crianças questionaram se ela era filha de mãe branca e pai negro por ter ambas as cores na pele”. Junto a isso, a modelo deixa evidente que no Canadá o preconceito racial nunca foi uma questão a ser discutida. É impressionante como questões sociais, raciais, de saúde e interesse público tão relevantes e tão presentes na sociedade atual são deixadas de lado por práticas preconceituosas.
Winnie é uma das protagonistas dessa causa quando a questão é vitiligo e autoestima. Lidar com uma doença que afeta a estética não é e nunca será uma tarefa fácil, pois vivemos em uma sociedade que tem como um dos seus pilares o julgamento. Aquilo que está fora de um padrão já estabelecido deve permanecer ali, imóvel e imutável.
Graças a Winnie, tais padrões são colocados em discussão e é realizado um olhar mais aprofundado ao tema. Assim, essa questão passa a ser questionada entre as comunidades, e aquelas que antes se isolavam agora ganham voz para o seu protagonismo. Dessa forma, o vitiligo passa a não ser só visto como uma “terrível doença”, mas sim como uma beleza única que cada uma dessas mulheres carregam. Tais manchas representam o símbolo de uma nova vitória, de uma conquista social, ao serem representadas e aceitas pela sociedade da maneira como são.
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Esse artigo foi editado por Lorena Lindenberg
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