As novelas brasileiras iniciaram sua história há 68 anos. Vinte e um de dezembro de 1952 marca a estreia de Sua Vida me Pertence, produzida pela extinta TV Tupi, roteirizada e dirigida por Walter Forster. Transmitida todas as terças e quintas-feiras e encenada ao vivo, contava com um enredo que passou a marcar as novelas nacionais: a paixão de uma moça por um homem que a desprezava. Com um triângulo amoroso protagonizado por Vida Alves, Walter Forster e Lia de Aguiar, a teledramaturgia brasileira começava a dar seus primeiros passos para conquistar milhares de futuros telespectadores.
Surgido na França do século XIX, o folhetim – histórias que ocupavam o rodapé das páginas dos jornais – pode ser considerado o principal elemento que influenciou a formação das telenovelas que consumimos e conhecemos nos dias de hoje. Com um enredo melodramático e que sempre conseguia construir um gancho que levava o leitor a querer continuar lendo, os folhetins narravam grandes amores, aventuras de grandes heróis e mistérios intrigantes. Sempre com referências ao cotidiano da época e linguajar simples, arrebataram um público fiel.
Apropriada pelas estruturas da lógica de produção da Indústria Cultural, a forma do folhetim acabou se expandindo para diversas plataformas e mídias. No caso da televisão, principalmente sul-americana, o resultado foi a telenovela.
Com produções que marcaram o comportamento e visão de mundo de variadas gerações, a telenovela no Brasil se tornou um elemento que passou a fazer parte da rotina e ritual diário de milhares brasileiros. Influenciada por uma metodologia de desenvolvimento dramatúrgico construído ao longo do regime militar brasileiro, a telenovela brasileira é considerada por muitos como uma das melhores do mundo.
Atingindo variadas classes sociais, nomes como O Clone, Senhora do Destino, Roque Santeiro, Vale Tudo, O Rei do Gado, Mulheres de Areia, Fina Estampa e Avenida Brasil são alguns exemplos das centenas de novelas que marcaram e permanecem marcando o imaginário brasileiro.
- A Volta da Telenovela Durante a Quarentena
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O advento e ascensão da utilização da internet e suas ferramentas geraram uma considerável caída da porcentagem de pessoas que contam com aparelhos televisivos em casa e, consequentemente, acompanham telenovelas. Porém, com o contexto social estruturado a partir da pandemia do novo coronavírus, antigas telenovelas passaram a ser reprisadas por emissoras nacionais, e esta antiga relação passou a ser sentida novamente.
Campanhas promovendo antigas novelas, como foi o caso do GloboPlay (plataforma de streaming pertencente à Rede Globo), passaram a fomentar e reacender o interesse em acompanhar novelas. Prova concreta desta volta são os pontos de audiência do Canal Viva – membrana do conjunto Globosat – que lideram na audiência de canais pagos. Tanto o público adulto quanto o jovem voltaram a consumir as tramas e histórias narradas pelas antigas novelas nacionais.
Virando a sociedade de cabeça para baixo, a pandemia do novo coronavírus deixou ainda mais clara a incerteza e nebulosidade em torno do futuro. Com isso, o comportamento esperado e natural de um indivíduo é aumentar o apego por referências passadas, já que o futuro se mostra mais incerto do que o normal. A reprise das telenovelas, assim como de outros produtos televisivos, expressa essa busca por pertencimento e identidade da sociedade.
- O Passado Se Mostra Melhor, Na Maioria Das Vezes
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Sendo visto comumente como melhor e mais positivo, a “volta ao passado” costuma evocar sentimentos de conforto. Remetendo a momentos e situações especiais, consumir produtos que fazem referência ao passado pode trazer uma sensação de pertencimento.
Dessa forma, as telenovelas brasileiras podem ser consideradas como elementos dotados daquilo que os pesquisadores Lisete Barlach e Lucas Pereira dos Santos identificam como Valor Simbólico do Objeto, no artigo “A inovação confrontada com as tendências vintage e retrô: Um estudo de caso na indústria da linha branca”. Além de nos remeter a épocas que já vivenciamos, as novelas conseguem evocar sentimentos antigos e que, consequentemente, nos trazem uma maior sensação de pertencimento e concretude a respeito da realidade que já se mostra, diariamente, tão incerta, conflituosa e hostil.
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The article above was edited by Safira L.M.
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