Muitos não entendem o conceito de funk feminista. Esse tipo de funk, dentre tantos outros, vem para mostrar a insubmissão das mulheres e a luta constante pelo direito à liberdade sexual, uma conquista da batalha feminina dentro do movimento e do espaço periférico.
Para as mulheres, conversar sobre sexualidade e sobre seus corpos nem sempre é simples. O texto “História da Sexualidade Feminina no Brasil: entre tabus, mitos e verdades” (2018), de Edicleia Lima, Jaqueline Martins e Josiane Peres, demonstra que a sociedade patriarcal sempre impôs regras e padrões comportamentais às mulheres. Ainda hoje, falar sobre sexo é um tabu, e por isso, o funk continua sendo alvo de discriminação, não apenas por sua origem periférica, mas, sobretudo, por seu conteúdo predominantemente pornográfico. Muitos podem não gostar do funk, mas é preciso reconhecer a força que a representatividade feminina gera dentro deste movimento.
Em praticamente todos os gêneros musicais existem letras com resquícios machistas, que dão à mulher um papel secundário. A diferença é que no funk, a questão sexual é mais citada e explícita, e muitas vezes, esse funk cantado por uma maioria de homens promove um machismo escancarado e uma ideia extrema de submissão.
Não é muito simples falar sobre prazer feminino na sociedade atual, mas funkeiros cantando letras machistas fazem sucesso na favela e também bombam fora dela. Hoje em dia, o funk feminista vem e serve de espaço para falar que mulheres podem sim ser livres, sentirem prazer e dominarem em qualquer situação.
Mc Carol, de 27 anos, é uma das funkeiras mais conhecidas por seu funk feminista. Gorda, negra e favelada, Carolina de Oliveira Lourenço acredita que é necessário falar sobre o outro lado também. Enquanto homens falam em suas músicas sobre mulheres que “não sabem fazer”, Mc Carol traz uma música chamada “Propaganda Enganosa” onde fala sobre a ejaculação precoce.
Dentro do próprio funk feminista também existem diferenças. Algumas Mc’s como a Mc Carol fazem o funk putaria mas colocam a mulher como protagonista, mostrando que o feminismo também pode ser “escrachado”. Já Mc’s como Pocah falam sobre empoderamento de uma forma mais leve e “pop”, como na música “Não sou Obrigada”. Enquanto Pocah canta “uma bunda dessa não nasceu pra ser mandada”, são muitas as mulheres que dançam e, consciente ou inconscientemente, se sentem mais donas de si. E isso chega aos homens também, que pensam “opa… talvez eu esteja fazendo algo errado”. E se não serve de reflexão para alguns, serve de incômodo para outros.
O funk feminista é necessário porque o funk, no geral, há um bom tempo ultrapassa o espaço da favela. É um dos gêneros mais presentes e pedidos nas festas universitárias, e lá, esse estilo também gera conscientização e o sentimento de liberdade nas mulheres. Cantoras como Anitta, Mc Naninha, Luísa Sonza, Lexa, Tati Quebra Barraco, Ludmilla e Mc Rebecca conquistam cada vez mais espaço e passam adiante um funk desconstruído, sem espaço para submissão, domínio sexual, exploração ou assédio.
Sim, agora é hora do show das poderosas, que devem parar de sofrer por homem, mostrar seu poder, mandar na própria vida, querer a liberdade e representar na cama, porque uma boa menina faz assim.